Do acervo da Biblioteca da Vereinigte Grosslogen von Deutschland ; continuação da correspondência entre os pioneiros da psiquiatria (1809)- II
‘Prezado Dr. Johannes Knecht
Caro amigo,
Talvez devesse endereçar esta missiva ao asilo de Riteln-Stolzenau, onde reputo seria o seu justo lugar, lá entre os seus companheiros orates e alienados. À custa de fortes doses de láudano talvez os médicos residentes lograssem acalmar os seus furiosos delírios. Relembro os nossos velhos tempos de senda alquímica, as noites de vígilia debruçados no athanor, vigiando as cores da Obra, cozendo bosta de vaca, cinabrio, orvalho e vitríolo. Moendo salitre, coágulos menstruais de virgem e urânio no almofariz de ágata; destilando, filtrando, concentrando e cozendo o Ovo Alquímico. Bem sei que o miserável pó de projecção que obtivemos não passava de absurda espagíria, sujando o chumbo com vil enxofre amarelo e outrossim, gastando o pouco ouro dos nossos bolsos. A Pedra líquida, o almejado elixir da vida e saúde longevas, só nos deu diarreia e cólicas. Como fui louco, fascinando-me com tal taumaturgo de pacotilha, que sois vós, Knecht. Sois, tampouco, uma sombra de charlatães famosos, como o malogrado e ridículo John Dee e nada tendes que ver com os verdadeiros Adeptos que idolatras; sois um mero chato nos tomates do glorioso Nicholas Flamel. O Oiro dos Filósofos não nos escapou por entre os dedos, como dizíeis, quando fugimos acossados acusados de burla, bruxaria e dissecação de cadáveres. Sentia-me um herói incompreendido e era verdadeiro amor o que senti por si. Lembro-me quando nos amámos sofregamente, sugando com gula as nossas vergas, abocanhando colhões e tudo, arreganhando a mucosa anal um do outro até ao cólon transverso sobre a mesa do laboratório e a Tábua Esmeralda. Agora, acho-me ressentido consigo; matá-lo-ia de bom grado se não me encontrasse na Suiça. Mas ainda o amo, Johannes. E estou disposto a perdoá-lo por me ter achado louco, eu que almejei aos mais altos degraus do Parnasso do Conhecimento e me sacrifiquei, prostituindo-me nos portos e oferecendo, mesmo doente, o rabo a velhos rozacruzes siflíticos. Sus! O asco que ainda sinto! Não me arrependo, no entanto. E mais. Apanhei nestas lides, uns parasitas horrendos que quais vermes insidiosos me enfraquecem sugando o fluído vital de todas as minhas células. Vejo-os perfeitamente ao microscópio e designei-os por ‘cromossomas’. São cilindricos como salsichas Braunschweiger ou Knockwurst e sempre vinte e três pares em todas as células que vi, curiosamente. Não entendo ainda o significado de tal regularidade matemática no comportamento destes parasitas. Já experimentei o remédio para as lombrigas, sem sucesso. Não saem por nada. Dei comigo introduzindo grossas raízes de mandrágora besuntadas com banha de enforcado no recto para curar as fístulas, escrófulas, fissuras, quistos hidáticos e cancros duros que os malvados bichos me causam.
Termino esta ressentida epístola com esta meditação: vai sempre dar tudo a isto – atafulhar o intestino. A nossa insaciável sensação de vazio, que tentamos preencher, não é coração, é no cólon. É o nosso coração metafórico.
Seu amigo, apesar de tudo.
Hans.
‘Caro ‘Dr.’ Hans Schreber,
Está perdoado. Venha e traga a banha de enforcado.
Cordialmente.
Johannes’.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
O QUE ESTÁ EM BAIXO É COMO O QUE ESTÁ EM CIMA
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5 comentários:
ahahahaha!!!!!
O que eu tenho rezado pela reconciliação destes dois!
E afinal de contas,amavam-se! E é Sexta-feira, tudo se conjuga! Friday, i'm in love!
UAu!
Brilhante posta.
...Banha de enforcAGDGADU!
...Ahahah!
Ah, ah, ah, muito Boaz, eztaz poztaz...
JB, não quem és, mas o comentário teve a sua graça :-)
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