quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

T.S.F.



Dos arquivos da Academia de Ciências de Berlin, continuação da correspondência entre pioneiros da psiquiatria (1809)


Caríssimos Dr. Hans Schreber e Johannes Knecht

Por recomendação e em nome dela, venho dar-vos conta de algumas preocupações da Academia relativamente a vós, ilustres membros desta fraternidade. Tratam-se de progressos na cura do homossexualismo, assunto que atrevo sugerir, talvez vos interesse, a bem do desinteressado avanço da ciência médica. Dedicadas experiências do Dr. Ignatz Frans Schultz lograram curar diversos invertidos que se acoitavam no escuro, depois de se apagarem as lâmpadas de gás das ruas insalubres de Berlim, procurando o contento de seu infame desejo veneal. Trata-se de uma simples terapia. Estima o Dr. Schultz que o homossexualismo tem como origem a exaustão nervosa e, assim recomenda andar de bicicleta até o devido equilíbrio do organismo se restabeleça e o paciente recupere o heterossexualismo. Esta doença deriva de hiperestesia, ou excesso de sensibilidade aos estímulos, da região anal, como tal pode ser curada com aplicação de soluções de cocaína, catárticos salinos e mesmo aplicação hipodérmica de estricnina. Outro método é a estimulação eléctrica com captação de relâmpagos conduzidos por um cabo metálico até ao ânus do paciente. Este, confesso já experimentei mas encontro-me tolhido pela incerteza da sua eficácia, pois não sou homossexual e assim continuo. As minhas evacuações passaram no entanto a ser luminescentes e saltam ratazanas de pêlo hirsuto e dentes arreganhados, guinchando, da retrete sempre que lá me alivio. Esta prática é recomendável apesar da improbabilidade do raio de tempestade necessário. Decidi resolver de forma prática o assunto recorrendo a um gerador de Van der Graaf para gerar a electricidade. O movimento necessário é conseguido engenhosamente por uma parelha de burros alinhada de modo a que a besta traseira tente penetrar a fêmea que pus à frente. Confesso que consegui velocidades de rotação extraordinárias neste espantoso engenho físico. Malgrado ter usado correntes metálicas para amarrar os animais e o fuído eléctrico se ter comunicado à verga do macho e resultado num fenomenal arco voltaico entre este órgão e a vagina da burra. Sei que as ondas electromagnéticas resultantes desta descarga foram captadas a mais de duas milhas no laboratório do Dr. Heinrich Hertz, que agora se entusiasma com a absurda ideia de comunicação telegráfica sem fios através do éter. Diz que as descargas dos meus burros electrificados induziram alterações na coerência de um tubo de limalha de ferro que lhe serve de receptor. Delira o pobre homem, pois tendo já baptizado o método de ‘Telegrafia Sem Fios’, ou T.S.F, o pretende vender ao Ministério da Marinha a troco de choruda soma. Com sucesso, pois numa carta assinada pelo Contra-Almirante Andreas Schimtussen, que me mostrou o Dr. Hertz, já tenta encomendar o Ministério mais de cinquenta parelhas de burros. Fosse tal façanha realizável, diria que deve haver métodos mais praticáveis de realizar tal insano truque de circo. Sei que os meus caros amigos se encontram em viagem na Suiça, mas certamente acolherão esta minha ideia com satisfação.

Cordiais saudações, do vosso amigo,

Alexander Von Humboldt’

7 comentários:

sandro disse...

Devias começar a ler o Record aí umas 3 vezes por semana, a ver se acalmavas um bocado essa desiderato de imaginação que está entranhado nessa cabeçorra.

Anyway, aquela parte do arco voltaico deixou-me uma lágrima no canto do olho. Esquerdo.

Efe disse...

Pois, pois, a malta já sabe qual é o teu "olho" que chora sempre... GRANDE ROTO!

Assento da Sanita disse...

O Record para mim é chinês e ia entrar em stress, da mesma maneira que tu entras se não puxares todas as manhãs o cordelinho do boneco do Sporting das Caldas que tens na mesa de cabeceira.

g2 disse...

O arco voltaico tem muito que se lhe diga. Olarilas...

sandro disse...

E as parelha de burros, idem. Não é gêsito?

g2 disse...

Isso não sei, Sandrinha...

Não sei, não...

VD disse...

Creio não estar longe o momento da descoberta electricidade estática mediante a fricção do pêlo do burro no pêlo da burra. Ou no próprio pêlo do Dr. Alexander.
Mas isto sou eu a devanear...