O espólio epistolar do Padre António Fernandes d’Azevedo veio-me parar ás mãos num bem atado molho de papel amarelecido que consultei mesmo ali, de joelhos, num recanto do enorme e poeirento alfarrabista da Misericórdia. Desdobrei as páginas ressequidas à medida que se aguçava a minha curiosidade. A maioria polemizava com interlocutores que desconhecia, mas pus de parte várias que debatiam um tema particular: a ‘Academia do Nu’. Datada de 1780, a Acta de Constituição desta academia dizia tratar-se esta mesma ‘de uma sociedade artística dedicada ao exercício e excelência do desenho, pintura e escultura do corpo humano nu’, com sede na Travessa do Cabral, número quinze, em Lisboa. Terá sido atribulada a primeira sessão de desenho, pois instigada por umas senhoras piedosas, uma pequena multidão foi lançar pedras às janelas da Academia na sua primeira sessão.Isto, após sérias dificuldades em encontrar um homem que aceitasse posar despido. O Padre d’ Azevedo era o secretário da Academia e numa carta ao seu amigo Arquibaldo Alves, dono de uns banhos públicos em Alcântara, descreve assim, Rodrigo, o modelo contratado: ‘era farto de carnes e ventrudo, tinha as pernas fininhas e a testa baixa, várias escrófulas e nascidos saíam-lhe das costas e um túbaro era mor de muito mais descaído que outro que quase chegava a meio da coxa. ‘ No entanto, foi Rodrigo, que era calafate de profissão, o único que aceitou expor-se assim à vista dos artistas. Encontrei um dos esquissos do padre e fiquei perplexo. Era o mais infantil dos desenhos, num papel cheio de manchas amareladas que deixavam cair um pó algo fétido e com cheiro a peixe. Descartei que se tratasse de bolor e de repente enrubesci, pois dei-me conta que seriam manchas de sémen e que as motivações d ´Azevedo eram as mais veneais e muito menos artísticas! Ejaculara profusamente para o desenho – disciplina para a qual não tinha a menor vocação – por cupidez e volúpia. Á medida que fui passando as cartas uma a uma, fui encontrando comentários de cariz misantrópico e mesmo apreciações do físico de Rodrigo que se aproximavam da pornografia, tais como aquela de Sebastião João Mendes ‘o venoso membro de Rodrygo, saliente de crespa pinteleyra faz-me correr a bílis ao traseiro, o que me dá uma vontade inevitável de obrar e depois andar com a tercida acima e abaixo para obter voluptuosas sensações enquanto remiro as nalgas fortes de Rodrigo e imagyno que lhe engulo o marsapo e (ilegível) os quelhoens’. Enojado, deixei cair o molho das cartas aos pés. Outro comentário, este de Ramiro de Cinfães, que dizia ‘Eu, Ramiro de Cinfaens, adido de Sua Majestade ao Paço de Villa Viçosa, eis-me perdido em devaneios do sentido, ao contemplar a beleza apolínea de Rodrigo e tremem minhas carnes ao pensar que podia fazer como de fanchono com ele ali atrás do…’ A dura realidade impôs-se e deduzi claramente que a ‘Academia do Nu’ não passava do debochado clube de invertidos da Lisboa de Bocage e Filinto Elísio. A suar, dirigi-me à Igreja do Loreto e rezei. Passaram horas. O prior, estranhando a minha persistência e imobilidade, aproximou-se e tocou-me no ombro ‘filho, estás bem? Estás há já quatro horas aí sentado’. Queres um copo de água? ‘ Dizia isto, enquanto me fazia trejeitos e olhinhos dengosos. Passou a mão pelas virilhas e lambeu o lábio superior. Aos tropeções e agarrando o molho de cartas, corri atabalhoadamente por entre os bancos da igreja e saí porta fora. Á noite tive insónias e nos poucos períodos em que dormi, soçobrei; e acordava suado e sempre depois do mesmo pesadelo: uma rapariga morena, de cabelo encaracolado e uma covinha no queixo aproximava-se nua e abria as pernas por cima de mim, mas atrás da vagina tinha uns grandes e imoderadamente descaídos testículos. Nisto, entravam dois enfermeiros e prendiam-na numa camisa-de-forças. E era levada dali a espernear aos gritos, enquanto a figura soturna e magra de d´Azevedo ria desbragadamente no canto sombrio do quarto. Acordava suado, mas aliviado. No dia seguinte, fui queimar as cartas e nunca mais pensei no assunto.
FIM
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
A ACADEMIA DO NU
Etiquetas:
Cavalgaduras,
Cenas muito maradas,
já te foste embora?
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18 comentários:
Diz-me uma coisa:
- Tens tomado os comprimidos?
5 *s...
Os azuis? Não preciso.
É triste saber que não se pode contar com o ombro dos terrenos representantes da Santa Madre Igreja para mais do que um sovaco bem untado de sarna, para aí descarregar o superavit acumulado de poluições que deviam ter sido nocturnas.
Gosto :)
"quelhoens" é bonito...:D
É a Teologia da Libertação é o que é.
Atenção a esse imaginário sexual... Morena, cabelo encaracolado e com uma cova no queixo, só me ocorre o Michael Jackson! :D:D
Já ganhou! Seria muy avisada obra uma colectânea de tão pio e fidelíssimo autor (o Assento, não o d'Azevedo), para a ilustração e enobrecimento de muitas famílias, mormente em tempos de tão desapiedada natureza.
Vareta, pá! Tu vives, afinal...Um dia tens de me dizer o que é que ganhei, presumindo eu de antemão que se trate de um bacalhau. Abraços lusos e banca rrôtos!
É a colectânea do padre Azevedo e a Nª Srª de Fátima de cristal da Atlantis. Indispensáveis em todos os lares:p
Senhor da Vareta Funda...
:))
como é que este triste sabe que o japa espeta a vareta bem fundo?
Aqui fala-se português e não crioulo chunga, ok? Não temos serviços de tradução.
queria um contacto do g2...eu sei que isto não é um blogue de engate mas precisava de lhe dar os parabéns! :)
Diza
que é feito de ti, rapaz? manda aí um tm, um mail, um FB...
Não sei se o paneleiro do "anónimo", ou a puta do "anónimo" se referia a mim, mas se sim, só lhe quero desejar que se vá espetar num poste da EDP ao volante de um carro a 180 km/h, fica logo a saber o que há a saber sobre espetar!
Por acaso, até estou dado a pensar que é uma puta, o tal anónimo! E das bem porcas...
Diza, já te vou contactar ali ao lado, tu perdeste estes emílios todos, foi?
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