segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Andrómeda

Foi Andrómeda uma bela virgem, filha de Cassiopeia e Cefeu, que na Ásia reinavam. Ainda menina era tão formosa que por todos a sua beleza era admirada. No entanto, quando Andrómeda atingiu o décimo sexto ano, a sua mãe ao ser interrogada acerca da beleza de sua filha disse ter a certeza ser Andrómeda mais bela que as Nerêides – ‘Desejava que tais ninfas do mar aqui pudessem estar. Assim todos poderiam constatar ser a minha Andrómeda muito mais bela que elas!’ Tais palavras chegaram aos ouvidos das Nerêides e estas, furibundas, de imediato se queixaram a Neptuno que, ao vê-las de tal guisa perturbadas, decidiu castigar Cassiopeia pela sua soberba. Assim, invocou um terrível monstro marinho que devorava os habitantes da Ásia e os seus campos devastava. Tantos foram caídos que Cefeu, temendo que todos os habitantes do reino perecessem, se dirigiu ao templo de Neptuno e orando ao deus, lhe rogou que daquele grande mal livrasse os seus súbditos e o reino. Neptuno, ouvindo as preces do rei não mudou de opinião e persistia na sua intenção de castigar a rainha pela sua muita soberba. Como Cefeu o tivesse interrogado sobre o que fazer para mitigar tamanho castigo, Neptuno respondeu, tonitruante, que devesse Cefeu sacrificar sua filha Andrómeda ao monstro marinho; apaziguaria tal oferenda a fúria da besta e cessaria assim a punição do reino de Cefeu e, por essa via, seria saldada ainda a soberba de Cassiopeia. Choroso, Cefeu ordenou que Andrómeda fosse despida e acorrentada de pés e mãos num rochedo sobranceiro ao mar batido pelas ondas. A esposa de Cefeu lhe disse –‘como podes perpetrar tamanha crueldade em nossa filha amantíssima, que na flor da juventude morrerá sob os apetites assassinos do cruel monstro?’ Cefeu lhe disse que, apesar do muito amor que sentia pela filha, não lhe restava outra solução, pois a alternativa seria permitir que este mesmo monstro continuasse a ceifar as vidas dos seus súbditos e campos. Perseu, que pela costa daquelas regiões andava errando, ao ver tão bela figura acorrentada às duras rochas, pensou primeiro tratar-se da estátua de uma deusa, senão quando viu seus cabelos agitando-se ao vento assim como lágrimas que lhe rolavam na face. Aproximando-se de tão bela figura, disse: ‘ dize, belíssima donzela – porque estais assim presa por fortes correntes neste ermo? Quem tal crueldade perpetrou?’ Andrómeda, como estava desnuda, teria por certo coberto a sua face de vergonha, mas prendiam-lhe as mãos as correntes. Correram-lhe profusas as lágrimas pelas faces enrubescidas, mas não deixou, por isso, de contar a Perseu a história de seu trágico destino originado pela soberba da mãe, Cassiopeia. Nisto, ouviu-se um som altíssimo e horrendo. O monstro emergia das ondas e surgia urrando. A besta imensa dirigiu-se célere em direção a Andrómeda. A donzela gritava desesperada e os seus pais paralizavam enlouquecidos de dor, pois nada podiam fazer para suster o ímpeto do monstro. As suas lágrimas eram dignas e decididas e contivessem algum derradeiro arrependimento, nada fizeram, contudo, para num último gesto ainda salvar a filha. ‘Não é tempo de chorar’ – disse Perseu. Tal como Mercúrio, Perseu tinha sapatos alados que lhe conferiam o poder do voo. Voando quase até ás nuvens e mergulhando sobre o monstro, uma vez e outra o feriu com a espada nas costas. Feriu-lhe fortemente o ombro usando toda a energia que tinha. O monstro, que se sentisse ferido de morte, mergulhou nas águas para volver a emergir berrandoe, qual visão horrenda, tentava morder Perseu. Este, velocíssimo, voava por sobre o monstro, para aqui e para ali, ferindo-o tanto e de tal modo que este acabou por se esvair em sangue e submergir para sempre moribundo sob as águas. Os pais, felizes e gratos, por verem sua filha salva de morte certa e horrenda, ofereceram a filha como esposa a Perseu. Este, soltou-a das correntes que a prendiam e consolou-a com suaves palavras. Andrómeda exultou pela sua liberdade e mais por se ver noiva de tão forte e tão belo homem.