sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Groselha


É refrescante ler o que Schoppenhauer escreveu sobre o espaço e o tempo – é refrescante ler Schoppenhauer, ponto final. Ainda que eu prefira groselha.

Felizmente, as duas coisas podem concorrer: posso sorver ruidosamente um copo de groselha com muito gelo (aqui não há groselha, donde que afinal não posso...) enquanto esfrego o focinho na ideia de que espaço e tempo são ideias, criações mentais, a nossa forma de “pôr ordem” no que experienciamos. Gavetas. Tupperwares para arrumos mentais.

Ora, se tanto pode ser dito sobre espaço e tempo, conceitos – CONCEITOS – aos quais se pode reconhecer alguma relevância e conveniência, será importante olhar à mesma luz para coisas como o dinheiro, o trabalho e o facto de supostamente estarmos integrados num “modelo” sócio-económico que já ninguém se lembra de ter escolhido e em que as decisões e acontecimentos parecem obedecer a uma causalidade de tudo quanto se toma por adquirido, por “nem é preciso dizer”, por “é mesmo assim”. Não conheço ninguém a quem os dias não “aconteçam”; ninguém que não seja “levado” na corrente do “tem de ser” inquestionado – ninguém em idade activa e com um emprego, pelo menos. De maneiras que ter Schoppenhauer numa mão, Roland Barthes na outra e uma simpática coreana a trazer-me a groselha à boca é o estado ideal para entreter a mioleira por uns minutos, tentando descortinar qual o motivo de andar tanta gente a correr de um lado para o outro e a fazer coisas.

É que isto de fazer coisas faz-me, em turno, impressão. Às vezes é giro mas o mais das vezes deixa de ser, assim que alguém diz “outra vez”. Extrapolando para um dia inteiro a fazer coisas, é uma grande chatice. E não tem um propósito; deixou de haver um propósito. Fazem-se coisas para alimentar o ciclo das coisas – e só não uso esse termo detestável da “coisificação” porque há, ainda, uma réstia miudinha de animalidade, de “vontade”, isto é: ainda há uma quota parte de responsabilidade assinalável de um factor natural nisto tudo, que se pode verter na bela expressão “fazem-se coisas para coisar”.

Pois é. Enquanto me engasgava com a groselha e cusipnhava a branca veste da coreana com pingos grossos de uma falsa menstruação e com um ou outro vestígio viscoso da vida a ser vivida nos meus pulmões, assomou-me uma consciência de que boa parte do “mal” está nos colhões. Podíamos localizá-lo noutros órgãos associados ao desejo mas colhões é palavra que (salvo seja) enche a boca e pode ser expelida com veemência e retumbância, algo que sempre se adequa aos pensamentos alimentados a groselha. O binómio dinheiro-colhões é um dos principais motores do actual estado de coisas. E porquê? Porque há uma ilusão, dentro da Ilusão, partilhada colectivamente e que faz crer que “coisas” potenciam a foda. E não falo do Viagra...

De certa forma, foder deixou de ser um acto físico e tornou-se, sob a formulação “querer foder”, na estrutura teórica do nosso existir. E sublinho TEÓRICA... ainda que o aumento da população mundial comprove a existência do lado prático. Até ao “grande milagre da progénie” trazer alguma ligeiríssima alteração de paradigma, o período que tem início no pós-instrução primária (para os mais lentos) é virtualmente determinado, parece-me, pelo querer foder. Independentemente do género, claro, factor que sempre contou para muito pouco com excepção de evitar alguns enganos embaraçosos no escuro. É o querer foder que dita, em primeiro lugar, a vontade de se “enfeitar”. Não venham com conceitos; venham com histórias mas não me venham com conceitos como “integração social” ou “aceitação social”... A tua filha, leitor, não te pede aquelas calças ou carteira ou pulseira ou o que for “porque as amigas também têm”; a tua filha quer aquele objecto porque não o tendo sente-se com menos hipóteses de que haja quem a queira foder. O teu filho não deixou de usar meia branca com sapatos de vela porque “os amigos faziam pouco”; deixou porque se continuasse a ser pató e pé de gesso tinha menos hipóteses de foder. Ou seja, desde a mais tenra idade, desnaturaliza-se o processo de “selecção natural” do parceiro sexual. As coisas, a aura material que se projecta, são encaradas como factores determinantes para o ensejo de foder. Vive-se num estado de MEDO, e esse medo é traduzível na expressão “se eu não parecer, não fodo”.

Estende-se a tudo; é também por isso que se vai para a Universidade, porque se crê que na Universidade há mais hipóteses de foder que trabalhando como magarefe ou calceteiro ou cerzideira ou bobinadeira – e, para além disso, pode abrir oportunidades para um emprego ou “posição” que, também esse, se comprove mais competitivo neste joguete para niños do “olha que bem que eu estou, bute foder?”. A raíz do problema está em que se juntam “pontos”, pontos esses que, chegada a hora, se mostram afinal não convertíveis em... foda. Mas como bons autómatos que somos, a foda, uma foda, qualquer foda, valida imediatamente toda a estupidez intrínseca ao processo – qualquer foda justifica a ida ao cabeleireiro, os ténis novos, o carro, a casa, o trabalho! A casa, sim; qual é a maior pressão para arranjar um emprego e sair de casa dos pais? A “independência”? Sim, se por isso entendermos ter um sítio para foder à vontade. Porque esse é outro espartilho: é preciso um sítio; é “ofensivo” que, citando o grande Assento, se “faça o amor” pelos cafés, pelas ruas ou no balcão dos congelados do LIDL... e a natureza do sítio é outro factor de competição. Entra-se nisto e é tal a pressão para ganhar pontos, para se parecer qualquer coisa que possa foder, que, de repente, nem "tempo" temos para... isso mesmo.

É que não há outro racional. Ou o sistema é puramente irracional ou, então, é ditado pelos colhões (num sentido universal que se estende a senhoras e senhores e ambíguos). E a alteração de percepção que a progénie possa acarretar pouca diferença faz: soma à continuada demanda por uma posição de alta fodibilidade a preocupação pela posição que os descendentes ocuparão nessa mesma competição. Uma pré-primária gira para que o miúdo não dê beijinhos a piolhosoas; uma carreira educacional que lhe permita ser “alguém”, ou seja: se ele ou ela não foderem, que não seja por incúria dos pais!! E dá-se-lhes quanto se pode e quanto não tivemos (e continuamos a acreditar que teríamos fodido mais se o tivéssemos tido; mais ou, pelo menos, outras pessoas).

Desafio-vos, então: parem um bocadinho, bebam uma groselha e pensem se há realmente necessidade de “fazer coisas” para se fazer sexo. E pensem na raíz última do estúpido conceito de “falhado” – o falhado, nos nossos dias, é o gajo ou a gaja que não fode e PARECE não ter hipóteses de o fazer, da solteirona amargurada ao sem abrigo que cheira a mijo. A ligação mental entre prosperidade e atractabilidade sexual é ainda mais perversa e perniciosa que a ideia de um Banco Central e da “dívida original”.
Animalize-se o que é animal! Cheirem-se, toquem-se, lambam-se, rejeitem-se, aceitem-se, em autocarros, em carros, em rotundas, no Colombo, no Casal das Aboboreiras, na Praça de São Pedro! E agora estão alguns a pensar “Ah pois! E o dinheirinho para ir foder à Praça de São Pedro?! Isso é tudo muito bonito mas é para quem pode! Eu tenho que penar todos os dias para mandar uma por mês em Alhos Vedros!”... E, assim sendo, eu incarno na imagem budista do mosquito e do touro de ferro e bebo mais uma groselha.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

DOS AUTOS DE JOAN ARAÚJO




No anno da graça de N. Sr Iesu Christo de mil trezentos e noventa e does, ao sétimo dia de Juño, pelas matinas, Joan d’Araújo, cavaleiro, mestre d’ abóbada, tabelian do Tribunal d’Evora, Alcalde de Sousel foi em muihieramá tomado de sesões, feluxos e diarreias do ventre por ter comido carne de prediz podre dada por hum mau judeu, que foi apedrejado e queimado no pelourinho d´Evora, por sorte duã gran maldade no dia de Santa Maria e inda o seu amigo de vis amores carnais Luís Melgaz, fillo de Joan Melgaz também enforcado, queimado e acusado de perro judeu e por ter comido choiriças de galiña na seista feira santa e inda de muita impiedade e brutxaria. Leu o perlado dominicano do Santo Ofício duas perdictas de acusaçon ao judeu e o mregullou em augoa a ferver e arrancou as uñas dos pés, uma a uma e por grande força does fortes homes o cevaram por traz que ele ainda gostou e mais o padre dominicano que taobém pedio para els lle cevarem o traseiro a bruta e desatou aos brados empurrando um largo tallo de cove nas entrañas e mais hu jumento com gran verga que ali estaua de um mafareque sarraceno que vendia latas e unguentos banfazejos para as carnes saídas dos homes por cagar grossas tercidas. Pôs u padre na bouca a pitcha du burro e dise do demo muitas loas qãndo o burro largou muitos leites na pança do padre que até esguijou das orellas. Deu noticia em muitas légoas dali e uieram muitos homes de jeito como melheres ver do burro que dele se agradaram e da sua verga grosa.

(como são raras e boas as bostas do Varreta Charreta... desta maneira penso serem republicáveis de quando em vez...)



Eu sou um adulto de merda

Foi na segunda-feira. Tive um jantar de trabalho que se seguiu a uma tarde de trabalho e a 15 minutos de lazer, num café, a ler o volume das Very Short Introduction da Oxford University Press sobre o Kierkegaard, esse enfermiço com a mania que era mais esperto que os outros. O jantar era tipo-bufete (o que eu gosto da palavra bufete... faz-me sempre pensar em adoptar bufette como estrangeirismo oficial para denominar uma bufa menor) e havia vinho chileno e vinho de arroz coreano. Tudo isto como cuidada construção de contexto para o primeiro punch-line deste texto: minutos depois do jantar, esborracei-me todo. Salvo seja. Fi-lo como deve ser, devidamente sentado sobre tampa plástica aposta em vaso cerâmico próprio, com descarregador de água apenso.
A questão é: porque raio há-de isto ser um punch-line? Porque raio há-de isto ser "escatológico", "grosseiro", de mau tom? É a verdade verdadinha. O próprio Kierkegaard esborraçava-se todo enquanto cogitava sobre o milagre da fé. E eu, que corri para um café depois do jantar, cantando salmos à legislação que obriga estes espaços a terem instalações sanitárias, caguei-me copiosamente depois de um serão de polida conversa de salão e ditos de espírito.
Não sei quem a encetou mas há uma campanha velha de séculos tendente a uma gradual desnaturalização do ser humano. E é (praticamente) global. Apesar de poder ser vista como sintomática das grandes falácias do pensamento ocidental (do "eu" controlador, superior e incorpóreo, preso na suja realidade do esburacado corpo), o facto é que também no oriente não se caga em público. Há uma marca de expiação sobre os nossos testemunhos de animalidade, de naturalidade. São "coisas nossas", feitas com carácter reservado - quando são precisamente aquilo que nos unifica. Não propugno por uma liberalização plena das funções excretórias - mas interrogo-me, por exemplo, porque é que, se não temos divisórias entre urinóis, nas casas de banho para senhores e crianças em idade escolar, porque é que as temos entre sanitas? E porque é que persiste a separação de géneros nas casas de banho? Porque é que eu não poderei ir à casa de banho de um café e perguntar à senhora que relaxadamente muda o penso se a sanita ao lado dela está ocupada? Se ninguém se incomoda com mudanças de fralda; se toda a gente acha graça à criancinha que diz "tenho chichi", que raio há no corpo adulto que motive tanto nojo, desconfiança e "moralidade" saloia? Há merda? Há em todos, que diabo! Nos novos como nos velhos, na Cristina Candeias como no Bento XVI.
Irrita-me um poucochinho, esta desnaturalização, porque eu a acato. Não só na hora de defecar mas em outras circunstâncias. No supermercado maior e mai'barato do bairro onde agora resido, só vendem papel higiénico em volumes adequados a famílias numerosas. Eu bem procurei mas debalde: o volume mais pequeno tinha 16 rolos MAS trazia mais 6 de bónus... E eu, confiando numa gestão criteriosa do inventário que ainda tinha em casa, não comprei. Não comprei porque me sentiria incomodado, nos 15 minutos de caminho entre o supermercado e a minha casa, ao passear frondosos 22 rolos de papel higiénico. Admito: nunca me ocorre coisa nenhuma quando vejo alguém passar carregando enormes volumes de papel higiénico. Mas se tal tarefa me é incumbida, logo eu interpreto cada olhar que me é dirigido como um "eh lá!! vai ser carilada potente, hoje, hein?" ou "com um cu que mal enche as calças queres tanto papel para quê?" ou "este deve ser daqueles que deixa as paredes da sanita bem rebocadas!". E sinto-me estúpido. Limitado. Timorato. Ímpio. Sarkozy. A campanha resulta. Eu sou um bocado desnaturalizado, como o leite é desnatado. Escagaço-me quando a natureza o clama - mas escondo-o, não só o acto como os acessórios, qual Pedro negando Cristo três vezes. Não quero ser visto em sociedade na companhia de papel higiénico (aquela coisa volumosa, sempre com mascotes ridículas que tentam tornar mais "suave" a sonora proclamação EU VOU CAGAR!...).
E estende-se a muito mais, a desnaturalização. Porque é que não é "aceitável" que um casal se despeça numa ocisão social com um "bom, nós vamos andando que eu e o meu marido queremos ir foder"? Porque é que a razão há-de-ser sempre os miúdos, a reunião da manhã ou a chaleira eléctrica que se calhar está ligada? Nenhuma das fórmulas "interessa" a quem a ouve; nenhum anfitrião quer saber da reunião ou da chaleira ou da escalfeta - ou da foda. Mas isto, meus amigos, isto é que a pedra de toque! A desnaturalização fez-se pela linguagem! Como é que pode haver um conceito como o de "linguagem ofensiva"? Ou "insulto"? Ou calão? Ou grosseirice? Ou ordinarice? Expliquem-me. COMO? É a auto-censura da linguagem um imperativo categórico kantiano? Se está ligado (por quem a defende) a qualquer espécie de moral universal, o argumento colapsa pelo pressuposto que um elemento universal pode ser universalmente experienciado através de um meio não-universal como o é o caralho da linguagem, pá!! Porque raio é que se cantam loas aos que captam "a beleza plástica da crua realidade da pobreza/droga/guerra/instituições com muitas pessoas com ar triste" e ninguém reconhece o fino recorte poético de uma expressão como cona da tua mãe? Sim; gostava que alguém me dissesse um dia: "Sabes, estava aqui a pensar gratamente na cona da tua mãe e em quão bendito é o fruto dali saído, Vareta." A cona da mãe de alguém de quem gostamos é um santuário original, um ponto de gratidão ao qual não é preciso prestar tributo directo.
Fica assim prometido: da próxima vez que fôr estrumar a porcelana, talvez sorria com bonomia lembrando-me dessa parte integrante disto tudo e do quanto isto tudo é intrinsecamente bom: as conas das vossas mães. E a da minha, também.

By Vareta

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A propósito de postas...














POSTEM, PORRA!!!!!!!!!!!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Ei-lo que regressa...

Eu sou um adulto de merda

Foi na segunda-feira. Tive um jantar de trabalho que se seguiu a uma tarde de trabalho e a 15 minutos de lazer, num café, a ler o volume das Very Short Introduction da Oxford University Press sobre o Kierkegaard, esse enfermiço com a mania que era mais esperto que os outros. O jantar era tipo-bufete (o que eu gosto da palavra bufete... faz-me sempre pensar em adoptar bufette como estrangeirismo oficial para denominar uma bufa menor) e havia vinho chileno e vinho de arroz coreano. Tudo isto como cuidada construção de contexto para o primeiro punch-line deste texto: minutos depois do jantar, esborracei-me todo. Salvo seja. Fi-lo como deve ser, devidamente sentado sobre tampa plástica aposta em vaso cerâmico próprio, com descarregador de água apenso.
A questão é: porque raio há-de isto ser um punch-line? Porque raio há-de isto ser "escatológico", "grosseiro", de mau tom? É a verdade verdadinha. O próprio Kierkegaard esborraçava-se todo enquanto cogitava sobre o milagre da fé. E eu, que corri para um café depois do jantar, cantando salmos à legislação que obriga estes espaços a terem instalações sanitárias, caguei-me copiosamente depois de um serão de polida conversa de salão e ditos de espírito.
Não sei quem a encetou mas há uma campanha velha de séculos tendente a uma gradual desnaturalização do ser humano. E é (praticamente) global. Apesar de poder ser vista como sintomática das grandes falácias do pensamento ocidental (do "eu" controlador, superior e incorpóreo, preso na suja realidade do esburacado corpo), o facto é que também no oriente não se caga em público. Há uma marca de expiação sobre os nossos testemunhos de animalidade, de naturalidade. São "coisas nossas", feitas com carácter reservado - quando são precisamente aquilo que nos unifica. Não propugno por uma liberalização plena das funções excretórias - mas interrogo-me, por exemplo, porque é que, se não temos divisórias entre urinóis, nas casas de banho para senhores e crianças em idade escolar, porque é que as temos entre sanitas? E porque é que persiste a separação de géneros nas casas de banho? Porque é que eu não poderei ir à casa de banho de um café e perguntar à senhora que relaxadamente muda o penso se a sanita ao lado dela está ocupada? Se ninguém se incomoda com mudanças de fralda; se toda a gente acha graça à criancinha que diz "tenho chichi", que raio há no corpo adulto que motive tanto nojo, desconfiança e "moralidade" saloia? Há merda? Há em todos, que diabo! Nos novos como nos velhos, na Cristina Candeias como no Bento XVI.
Irrita-me um poucochinho, esta desnaturalização, porque eu a acato. Não só na hora de defecar mas em outras circunstâncias. No supermercado maior e mai'barato do bairro onde agora resido, só vendem papel higiénico em volumes adequados a famílias numerosas. Eu bem procurei mas debalde: o volume mais pequeno tinha 16 rolos MAS trazia mais 6 de bónus... E eu, confiando numa gestão criteriosa do inventário que ainda tinha em casa, não comprei. Não comprei porque me sentiria incomodado, nos 15 minutos de caminho entre o supermercado e a minha casa, ao passear frondosos 22 rolos de papel higiénico. Admito: nunca me ocorre coisa nenhuma quando vejo alguém passar carregando enormes volumes de papel higiénico. Mas se tal tarefa me é incumbida, logo eu interpreto cada olhar que me é dirigido como um "eh lá!! vai ser carilada potente, hoje, hein?" ou "com um cu que mal enche as calças queres tanto papel para quê?" ou "este deve ser daqueles que deixa as paredes da sanita bem rebocadas!". E sinto-me estúpido. Limitado. Timorato. Ímpio. Sarkozy. A campanha resulta. Eu sou um bocado desnaturalizado, como o leite é desnatado. Escagaço-me quando a natureza o clama - mas escondo-o, não só o acto como os acessórios, qual Pedro negando Cristo três vezes. Não quero ser visto em sociedade na companhia de papel higiénico (aquela coisa volumosa, sempre com mascotes ridículas que tentam tornar mais "suave" a sonora proclamação EU VOU CAGAR!...).
E estende-se a muito mais, a desnaturalização. Porque é que não é "aceitável" que um casal se despeça numa ocisão social com um "bom, nós vamos andando que eu e o meu marido queremos ir foder"? Porque é que a razão há-de-ser sempre os miúdos, a reunião da manhã ou a chaleira eléctrica que se calhar está ligada? Nenhuma das fórmulas "interessa" a quem a ouve; nenhum anfitrião quer saber da reunião ou da chaleira ou da escalfeta - ou da foda. Mas isto, meus amigos, isto é que a pedra de toque! A desnaturalização fez-se pela linguagem! Como é que pode haver um conceito como o de "linguagem ofensiva"? Ou "insulto"? Ou calão? Ou grosseirice? Ou ordinarice? Expliquem-me. COMO? É a auto-censura da linguagem um imperativo categórico kantiano? Se está ligado (por quem a defende) a qualquer espécie de moral universal, o argumento colapsa pelo pressuposto que um elemento universal pode ser universalmente experienciado através de um meio não-universal como o é o caralho da linguagem, pá!! Porque raio é que se cantam loas aos que captam "a beleza plástica da crua realidade da pobreza/droga/guerra/instituições com muitas pessoas com ar triste" e ninguém reconhece o fino recorte poético de uma expressão como cona da tua mãe? Sim; gostava que alguém me dissesse um dia: "Sabes, estava aqui a pensar gratamente na cona da tua mãe e em quão bendito é o fruto dali saído, Vareta." A cona da mãe de alguém de quem gostamos é um santuário original, um ponto de gratidão ao qual não é preciso prestar tributo directo.
Fica assim prometido: da próxima vez que fôr estrumar a porcelana, talvez sorria com bonomia lembrando-me dessa parte integrante disto tudo e do quanto isto tudo é intrinsecamente bom: as conas das vossas mães. E a da minha, também.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Ou
Já lavavas mas era os pés.






segunda-feira, 19 de outubro de 2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA!!


Após as escandalosas imagens em que a cctriz M.P. tentou ridicularizar os Portugueses e onde chega ao ponto de ESCARRAR numa fonte histórica, a dita actriz foi vítima de 2569 escarradelas enquanto se passeava NUA no Parque Eduardo VII!
"Cá se fazem, cá se pagam!", dizia um dos populares ...
Que exagero...

eheheheh

Embrulha, ó abichanado!

Abstinência



segunda-feira, 12 de outubro de 2009

ESPLANADA À BEIRA-TEJO EM 2012




Por acaso até acho que a história dos contentores é uma tempestade num copo de água. Preocupa-me mais a intensidade de construção à beira-rio entre Alcântara e Algés. Mas nunca se sabe. Aqui fica uma imagem futurológica. E a foto até é minha. Não digo é onde a fiz! Tungas.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

As bandas filarmónicas...














...ou "The filarmonic bands" em escocês, são uma das 80 maravilhas do mundo, cá para mim. Sempre que posso, aí vou eu atrás delas, se elas forem na rua a tocar. Este fim de semana, lá no burgo dos ovos moles, houve um concerto com montes delas, no sábado à tarde. Regalei-me!

Da última vez que tinha ouvido uma banda destas, foi aquando do casamento daquele soldado que assistiu, incrédulo, à maneira como o seu general camuflou os canhões, com areia, lembram-se?!

Pois ele regressou à aldeia e casou com a namorada, de faces coradas e carnes cheinhas. Um amor de menina a quem ele disse assim que lá chegou:
"Casas comigo, Mariana?"
"Caso, sim, Manuel", respondeu ela, a carinha laroca ainda mais brilhante,
"Então vamos começar a casar já", disse o Manuel, o olho guloso não brilhava menos,
"Aqui?", perguntou ela, com medo,
"Sim aqui, porquê?", ele impaciente,
"Estamos nas traseiras da igreja, não será pecado?", questiona ela a olhar para todo o lado,
"Pecado é não casarmos já aqui, deita-te aqui mesmo que eu explico-te tudo, na tropa aprende-se tudo, basta ver como o meu general camuflou os canhões debaixo de areia, vai daí o inimigo chegou e desmanchou-se a rir, a gente aproveitou a risota deles e demos-lhe um arraial de porrada, se calhar o nosso general era mais esperto do que nós pensávamos. Graças a ele a guerra acabou e nós vamos casar e é já, que já se faz tarde...", o discurso deixou-o cansado, mas não tanto que não agarrasse logo na magana e não lhe desse um beijo que se ouviu do outro lado da aldeia.
"Sim, meu herói, anda, mostra-me as medalhas e casa comigo...", disse ela toda derretida!

Se eu pudesse, tinha uma banda filarmónica (Filarmonic band em escocês) só para mim...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

GLÓRIA DA MANHÃ, UM FRADE




Bojudo fradalhão de larga venta,
Abismo imundo de tabaco esturro,
Doutor na asneira, na ciência burro,
Com barba hirsuta, que no peito assenta:

No púlpito um domingo se apresenta;
Pregas nas grades espantoso murro;
E acalmado do povo o grão sussurro
O dique das asneiras arrebenta.

Quatro putas mofavam de seus brados,
Não querendo que gritasse contra as modas
Um pecador dos mais desaforados:

"Não (diz uma) tu padre não me engodas:
Sempre, me hé-de lembrar por meus pecados
A noite, em que me deste nove fodas"!

Bocage