sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Groselha


É refrescante ler o que Schoppenhauer escreveu sobre o espaço e o tempo – é refrescante ler Schoppenhauer, ponto final. Ainda que eu prefira groselha.

Felizmente, as duas coisas podem concorrer: posso sorver ruidosamente um copo de groselha com muito gelo (aqui não há groselha, donde que afinal não posso...) enquanto esfrego o focinho na ideia de que espaço e tempo são ideias, criações mentais, a nossa forma de “pôr ordem” no que experienciamos. Gavetas. Tupperwares para arrumos mentais.

Ora, se tanto pode ser dito sobre espaço e tempo, conceitos – CONCEITOS – aos quais se pode reconhecer alguma relevância e conveniência, será importante olhar à mesma luz para coisas como o dinheiro, o trabalho e o facto de supostamente estarmos integrados num “modelo” sócio-económico que já ninguém se lembra de ter escolhido e em que as decisões e acontecimentos parecem obedecer a uma causalidade de tudo quanto se toma por adquirido, por “nem é preciso dizer”, por “é mesmo assim”. Não conheço ninguém a quem os dias não “aconteçam”; ninguém que não seja “levado” na corrente do “tem de ser” inquestionado – ninguém em idade activa e com um emprego, pelo menos. De maneiras que ter Schoppenhauer numa mão, Roland Barthes na outra e uma simpática coreana a trazer-me a groselha à boca é o estado ideal para entreter a mioleira por uns minutos, tentando descortinar qual o motivo de andar tanta gente a correr de um lado para o outro e a fazer coisas.

É que isto de fazer coisas faz-me, em turno, impressão. Às vezes é giro mas o mais das vezes deixa de ser, assim que alguém diz “outra vez”. Extrapolando para um dia inteiro a fazer coisas, é uma grande chatice. E não tem um propósito; deixou de haver um propósito. Fazem-se coisas para alimentar o ciclo das coisas – e só não uso esse termo detestável da “coisificação” porque há, ainda, uma réstia miudinha de animalidade, de “vontade”, isto é: ainda há uma quota parte de responsabilidade assinalável de um factor natural nisto tudo, que se pode verter na bela expressão “fazem-se coisas para coisar”.

Pois é. Enquanto me engasgava com a groselha e cusipnhava a branca veste da coreana com pingos grossos de uma falsa menstruação e com um ou outro vestígio viscoso da vida a ser vivida nos meus pulmões, assomou-me uma consciência de que boa parte do “mal” está nos colhões. Podíamos localizá-lo noutros órgãos associados ao desejo mas colhões é palavra que (salvo seja) enche a boca e pode ser expelida com veemência e retumbância, algo que sempre se adequa aos pensamentos alimentados a groselha. O binómio dinheiro-colhões é um dos principais motores do actual estado de coisas. E porquê? Porque há uma ilusão, dentro da Ilusão, partilhada colectivamente e que faz crer que “coisas” potenciam a foda. E não falo do Viagra...

De certa forma, foder deixou de ser um acto físico e tornou-se, sob a formulação “querer foder”, na estrutura teórica do nosso existir. E sublinho TEÓRICA... ainda que o aumento da população mundial comprove a existência do lado prático. Até ao “grande milagre da progénie” trazer alguma ligeiríssima alteração de paradigma, o período que tem início no pós-instrução primária (para os mais lentos) é virtualmente determinado, parece-me, pelo querer foder. Independentemente do género, claro, factor que sempre contou para muito pouco com excepção de evitar alguns enganos embaraçosos no escuro. É o querer foder que dita, em primeiro lugar, a vontade de se “enfeitar”. Não venham com conceitos; venham com histórias mas não me venham com conceitos como “integração social” ou “aceitação social”... A tua filha, leitor, não te pede aquelas calças ou carteira ou pulseira ou o que for “porque as amigas também têm”; a tua filha quer aquele objecto porque não o tendo sente-se com menos hipóteses de que haja quem a queira foder. O teu filho não deixou de usar meia branca com sapatos de vela porque “os amigos faziam pouco”; deixou porque se continuasse a ser pató e pé de gesso tinha menos hipóteses de foder. Ou seja, desde a mais tenra idade, desnaturaliza-se o processo de “selecção natural” do parceiro sexual. As coisas, a aura material que se projecta, são encaradas como factores determinantes para o ensejo de foder. Vive-se num estado de MEDO, e esse medo é traduzível na expressão “se eu não parecer, não fodo”.

Estende-se a tudo; é também por isso que se vai para a Universidade, porque se crê que na Universidade há mais hipóteses de foder que trabalhando como magarefe ou calceteiro ou cerzideira ou bobinadeira – e, para além disso, pode abrir oportunidades para um emprego ou “posição” que, também esse, se comprove mais competitivo neste joguete para niños do “olha que bem que eu estou, bute foder?”. A raíz do problema está em que se juntam “pontos”, pontos esses que, chegada a hora, se mostram afinal não convertíveis em... foda. Mas como bons autómatos que somos, a foda, uma foda, qualquer foda, valida imediatamente toda a estupidez intrínseca ao processo – qualquer foda justifica a ida ao cabeleireiro, os ténis novos, o carro, a casa, o trabalho! A casa, sim; qual é a maior pressão para arranjar um emprego e sair de casa dos pais? A “independência”? Sim, se por isso entendermos ter um sítio para foder à vontade. Porque esse é outro espartilho: é preciso um sítio; é “ofensivo” que, citando o grande Assento, se “faça o amor” pelos cafés, pelas ruas ou no balcão dos congelados do LIDL... e a natureza do sítio é outro factor de competição. Entra-se nisto e é tal a pressão para ganhar pontos, para se parecer qualquer coisa que possa foder, que, de repente, nem "tempo" temos para... isso mesmo.

É que não há outro racional. Ou o sistema é puramente irracional ou, então, é ditado pelos colhões (num sentido universal que se estende a senhoras e senhores e ambíguos). E a alteração de percepção que a progénie possa acarretar pouca diferença faz: soma à continuada demanda por uma posição de alta fodibilidade a preocupação pela posição que os descendentes ocuparão nessa mesma competição. Uma pré-primária gira para que o miúdo não dê beijinhos a piolhosoas; uma carreira educacional que lhe permita ser “alguém”, ou seja: se ele ou ela não foderem, que não seja por incúria dos pais!! E dá-se-lhes quanto se pode e quanto não tivemos (e continuamos a acreditar que teríamos fodido mais se o tivéssemos tido; mais ou, pelo menos, outras pessoas).

Desafio-vos, então: parem um bocadinho, bebam uma groselha e pensem se há realmente necessidade de “fazer coisas” para se fazer sexo. E pensem na raíz última do estúpido conceito de “falhado” – o falhado, nos nossos dias, é o gajo ou a gaja que não fode e PARECE não ter hipóteses de o fazer, da solteirona amargurada ao sem abrigo que cheira a mijo. A ligação mental entre prosperidade e atractabilidade sexual é ainda mais perversa e perniciosa que a ideia de um Banco Central e da “dívida original”.
Animalize-se o que é animal! Cheirem-se, toquem-se, lambam-se, rejeitem-se, aceitem-se, em autocarros, em carros, em rotundas, no Colombo, no Casal das Aboboreiras, na Praça de São Pedro! E agora estão alguns a pensar “Ah pois! E o dinheirinho para ir foder à Praça de São Pedro?! Isso é tudo muito bonito mas é para quem pode! Eu tenho que penar todos os dias para mandar uma por mês em Alhos Vedros!”... E, assim sendo, eu incarno na imagem budista do mosquito e do touro de ferro e bebo mais uma groselha.

37 comentários:

fininhO disse...

Assento da Sanita disse...

Brilhante, clarividente, iluminado. Obrigado por mais esta pérola da lucubração ociosa. V de vareta e de Venceslau.

fininhO disse...

Estava eu aqui a pensar enquanto escrevia o "1º": a seguir vem de certeza um grande paneleiro.

Assento da Sanita disse...

Isso foi a tesão do mijo.

fininhO disse...

acordei alçado e à rasca pra mijar.

Assento da Sanita disse...

Foi para o tecto então? Deve feder a tua latrina...caraças.

fininhO disse...

a tua pelo que mostras não fica atrás...

queres ir a meças?

Assento da Sanita disse...

Se queres uma luta de varapau, não contes comigo. Olha, está aí o choriço qu'enrrija também co'mijo.

fininhO disse...

Latrynas, qual a mais suja?


qula varapau, qual carapau!

fininhO disse...

quanto muito podemos ver quem é que mija mais longe...

fininhO disse...

Logo à noite há putas na FIL... até Domingo.

fininhO disse...

Secções para todos os gostos... tem uma que vai ser a vossa perdição, a ala homo erótico.

Bock disse...

ERstás a falar com os panascas que vivem na tua cabeça e os projectos de filhos deles que gostariam de gerar na tua garganta, tripa cagueira, orelhas, narinas e covinha do umbigo, fininh0????

Bock disse...

Foda-se, falta-me o tenmpo para ler esta - mais que certa - pérola de sagacidade do Amigo raVeta...

Anónimo disse...

Vareta, pá, comecei a ler, pareceu-me um tema recorrente e já pensado por outros, mas dás-lhe uma volta brilhante e rematas muito bem.

Estou aqui a pensar que tu és a pessoa indicada para fazer frente ao Tarantno e criar um guião soberbo e superior.

Não tenho qualquer dúvida sobre isso.

Já para fazer frente ao Pier Paolo Pasolini temos os argumentos do AdaS.

Temos aqui dramaturgos e cineastas em potência, pás.

Este berloque é um caldeirão frevilhante de ideias.

Vamos mudar o Mundo, ó coisos.

chOURIÇO

Anónimo disse...

*fERvilhante, obviamente.

chOURIÇO

Bock disse...

Pois, mudar o mundo...


Estratagemas para poderes levar no cu em plena luz do dia à frente de toda a gente, é o que é!!!


Devasso crasso.

Anónimo disse...

Olha que nem sequer aceitas um comento sério, caralhostefodam.

Reparaste que nem sequer cumprimentei ninguém no comento nem escrevi umafrasecomaspalavrastodasagarradasamandarvosfodercomumburro?

Pois, é a cultura homossexual que professas, Cocas, começo a compreender...

chOUIÇO

Anónimo disse...

Foda-se, que nem assinar consigo, caralho.

chOURIÇO

Bock disse...

Cá por mim podes assinar o que quiseres e das maneiras que quiseres.

Cá por mim podes falar de coisas sérias a brincar, brincar com coisas sérias, brincar com brincadeiras ou falar seriamente de coisas sérias.

Cá por mim podes fazer o que tu quiseres...











... Não será por isso que vais deixar de de ser um devasso crasso, um chamariz de maldade, um poço de perversão, iniquidades e deboche.

Mas gosto de ti na mesma, hã?

Anónimo disse...

Maricas.

chOURIÇO

Bock disse...

Não sabes dizer mais nada... que tristeza.


Mas vá lá, ao menos desta vez conseguiste escrever o teu nome.

Já estás sem beber há quê? Vinte minutos, meia-hora?

Assento da Sanita disse...

Sim senhora. Apoiado chouriço 12:07

O Pasolini era um GRANDE artista, para além de um grande fanchono, mas nesse capítulo também estamos bem abonados.

Ainda bem que tens esperança nesta súcia de coçadores de escrôto...

chOUIÇO disse...

assento, queres ser meu namorado?

o outro bazou!

Anónimo disse...

Devias enxergar-te melhor, FêPêMê...

chOURIÇO

Bock disse...

AdaS, anda lá, não sejas tímido, pá.

Foda-se, um latagão com esse tamanho preocupado em saber o que irá o chOUIÇO pensar da cor dos teus boxers, pá... assim como assim aquilo é para tirar!!!!

Assento da Sanita disse...

Esta merda tem conversas dignas das casas de banho do centro comercial terminal ou do drugstore chic choc. Porra.

Bock disse...

Não saberia dizer, pois não tenho por hábito frequentar tugúrios onde cidadãos do sexo masculino se deslocam em excursões de inter-complacência sexual, mormente do foro oral e anal.

Mas se tu o dizes, pá, acredito.

Piamente.

Anónimo disse...

És fiel, não é, Cocas?

É isso que queres dizer...,

chOURIÇO

fininhO disse...

Piamente! tu queres é lavar o cu com água benta... depois de suavemente enrabado... não te servirá de nada, pá, se calhar pensas que assim poderás ir para o céu e continuar encher o bufa de sarrafos, tá bem tá!

fininhO disse...

pões os olhos no xóriço, pá, que lava o cu com vinho, pá, e quem lá vai (pergunta ao Adas) não se queixa.

fininhO disse...

... pá.

Anónimo disse...

Outro maricas...

chOURIÇO

Anónimo disse...

Bom fim-de-seMAMA!

Pás.

chOURIÇO

Bock disse...

VAI TRABALHAR, MADRAÇO!


Agora é que vai começar a labuta!!!!


Anda vá, ala para o PEVII que já é quase de noite.


Panasca-vampiro!












Ou serás Vampiro-panasca?




Por falar em vampiros, já viram aquela série da HBO que dá pelo nome de True Blood?

g2 disse...

Grande Senhor da Vareta Funda, pá...

Um post espectacular! Acho que devias ter um blog e escrever lá todos os dias.

Um grande abraço, caro amigo!

luí disse...

:-)
muy bueno!