Pergunto-me, hoje, se alguma vez fui mais novo do que sou. Talvez pareça que sim, julgando pela superfície de testa à mostra e pela saudável ocorrência de quatro cabelos brancos nos meus largos peitorais. Mas o que me parece a mim é que fui sempre a mesma merda. Salvo seja. Ou nem tanto.
Merda, convenhamos, tem a carga (literal e figurativamente) que lhe quisermos dar. E acaba por ser uma imagem adequada. O que fui sempre – e não contesto este ‘sempre’ na sua mais pura acepção – é, como a merda, qualquer coisa moldável, capaz de se adaptar ao espaço da universal tripa. Qualquer coisa expelida pela existência que é, em si mesma, existência também. Conclusão: tanto sou sempre a mesma merda como também sou sempre o olho do cu, esse lídimo espelho do big bang.
Coíbo-me de vos arrastar de borco para o chiqueiro original – parece-me absolutamente óbvio, face ao exposto, qu’isto é tudo a mesma merda, conceito que não requer, agora, mais contextualização. Eu sempre fui assim, tão ou mais clarificador que um jerrycan de lexívia Javisol.
Mas tinha medo. Lebro-me do o ter, ainda que não consiga apontar de quê (se é que alguma vez que se consegue). Lembro-me de me enxofrar com as celebrações do Dia Mundial da Criança no Estádio Municipal de Tomar. E não era só porque, graças as dou aos meus irmãos mais antigos, eu gostava mais de Stranglers do que da Cândida Branca Flor ou do Avô Cantigas, perenes (mais ou menos, não fosse a Cândida ter optado por ser a filoxera do seu próprio vinhedo) animadores daqueles populares enjaulamentos de menores num relvado manhoso, com direito a um saudável snack-in-a-bag composto, se a memória não me falha, de um paposeco com marmelada, rebuçados à cabazada e batatas fritas. A preocupação nutricionista de quem enchia tais sacos de plástico sempre me fascinou, em particular pela notória ausência de qualquer líquido que aquietasse a sede à mocidade acalorada e açucarada. Adiante... Também não era da desidratação que eu tinha medo.
Havia ali uma atmosfera estranha – milhares de crianças e eu entre o acossado, o sozinho, o “eu se quiser não me ralo” (que tomo de empréstimo com a devida e saudosa vénia) de quem aos 7 anos já queria parecer nonchalant e um sentimento bizarro de que a linguagem me separava do que parecia ser, nos outros e outras, um puro prazer animal em esfolar joelhos na pista de falso tartan. Não, não era nenhum sentido de ‘superioridade’, nem o era bem de inferioridade; era uma inadequação aos grandes números, uma espécie de receio da diluição.
Daquelas coisas que todos temos, se nos quisermos lembrar. Como a quase certeza que carrego que, tivesse a minha mãe rumado mais a sul para me dar à luz, eu seria agora muezin numa qualquer mesquita só pelo gozo de acordar a vizinhança a cantar (nos bons tempos do Fora de Moda, chegou a haver quem me chamasse o muezin de Alfama, com a mesma bonomia que o termo mereceria entre os guardas prisionais de Guantanamo...). Adiante. O que me fascina e ainda não compreendo é como o que pegamos o medo, essa terrível doença, uns aos outros e sem nos preocuparmos demasiado com isso. E ninguém investe em vacinas. E ainda consagramos a espúria realidade em tonterias como o dito “quem tem cu, tem medo”. Quem tem cu já usou fraldas e nasceu sem qualquer espécie de receio...
E isto não tem importância nenhuma, claro. Nada tem, intrinsicamente, importância alguma – nem substância alguma, mas isso já é outra história. Só que agora, a três horas de distância, parece-me parvo que eu não tenha tomado café num sítio que gosto porque não estava ninguém na esplanada e eu “não quis incomodar”; que não tenha tomado café num sítio novo, porreiro, com bom aspecto porque “ainda não vi como é que funciona, se é preciso ir ao balcão ou se vêm à mesa”, e que tenha acabado a tomar café num franchise do demo incarnado numa multinacional suíça, sítio sem ar nem graça mas no qual me sinto bem porque “encaixo no esquema”.
Pergunto-me hoje, e com boa razão, se alguma vez fui mais novo do que sou.
232 comentários:
«O mais antigo ‹Mais antiga 201 – 232 de 232E para rentabilizar, durante o trajecto serão feitas demonstrações de produtos de ménage a preços muito competitivos.
Por cada compra feita, oferta de três fatias de bacon fumado Pingo Doce (queriam presunto, era?)
Não é nada Alto da Guerra... aquele sítio a seguir ao Poceirão... alguem sabe o nome?
é tudo u8ma questão de timings, e de idade, chURIÇO.
E quem são essas V.exas a que te referes quando aludes ao sonho "ibérico"* de alguns?
*termo-engodo a que os porcos castehanos imperialistas recorrem adrede como subterfúgio para captar as simpatias de algumas lusitanas e muito ingénuas gentes.
TGV Land.
chOURIÇO
Bock, deixas?
Os que «ouvi» aqui a queixarem-se de não serem espanhóis.
chOURIÇO
Alto Estanqueiro!!! :)
Ah...fica ali ao pé de uma passagem por baixo da A1, num sitio onde o mato está coalhado de preservativos usados. Conheço perfeitamente VD.
Eu não me queixo de não ser espanhola. Mas bem vejo o ar de piedade com que os empregados das bombas de Ayamonte olham para nós...:D
Deixo.... o quê, anónimo?
se fores um gajo, não deixo.
se fores gaja, diz ao que vens, e logo se vê.
O meu patriótico estômago ressentir-se-ia dos pimientos morrones a todas as refeições.
E do azeite de arbequinas a toda a hora.
Não há nada como um bifinho frito em margarina light de soja enriquecida com ómelga 3 e anti-oxidantes, especial fritura!
Eu é que sou o namorado do chOURIÇO e vamos casar, se Deus quiser.
Vais, vais...
Que é feito do FêPêMê?
Foi de férias?
chOURIÇO
Isto merece um print, derivado à minha falta de tempo para vos acompanhar aqui.
Mas tenho de ir almoçar e voltar e continuar numa outra janela, que não esta do blogger, a suar as estopinhas a bem da nação, como diria o chOURAS.
Conclusão, nem print, nem nada. Logo vejo se tenho tempo.
O Panão deve andar por aí à espreita... na semana passada, o sandro ou o clonito ou o caralho que os foda foderam-lhe a cabeça e o nick... e depois alguém disse que aquilo era trabalho de profissional, que estava muito bem feito, e vai daí o gaijo ficou fodido com tudo e com todos... e vai daí atirou-nos com um thcau, adeus, fiquem bem, vão pó caralho e tal... (e até ao meu regresso)
enfim... nada de novo, costumeira a que já nos habituou.
sonho iberico = bocata de jabugo delante de la tv viendo bola
yo tambien quiero ser español
porque cobran mas
aparcan o carro con 1 sola maniobra
solo rapan a cara
e o mundo inteiro e su WC
e este coment ja puse outra vez pero desapareceu
boa noite
sonho finOiberico = ostia, dá a rata dá...
F...
volta que estas perdoado
teus irmaos te esperamos con los brazos abiertos
vai-te a sevilha e concretizas os sonhos
finocchio
sevilha já deu o que tinha a dar...
... tu é que ainda não deste o que tens para dar... dá, vá.
ostia, dá-me um beijinho e pronto...
(... o resto virá por acréscimo)
por onde ???????
levas monte de anos pedindo a mesma coisa, sem sucesso aliás.
es teimoso como la via del tren.
mi esperas de piernas abiertas!
Tanta paleio sobre política, foda-se!
Ide mazé despentear o Joaquim!
Mosquito, pouco banzé!
Boas e enconadas tardes!
Perdão, ensonadas.
O vosso discurso político desta manhã sugeriu-me vários neologismos.
"Peidocracia"
Fui ver ao google e lá não consta. Neologismo, portanto.
"Filhosdaputacracia"
Também não existe.
"Conadatiaócracia"
Idem
Depois de vos ler, fiquei a cismar se não viverei num regime coirõesdocaralhócrático.
Acho que sim.
e viva a sardinha assada!
(há sardinhas lá em cima)
Enviar um comentário