Ismene – Ah querida irmã…É grande o amor que nos une… E também por amor a nosso irmão Polínices te desgraçaste! Dilacerado em mil bocados, sangrava já o meu coração por ele; e agora como poderá albergar ainda mais dor por ti, que te vejo no calabouço de Creonte – esse infame usurpador, esse traidor desprezível! Essa pústula infecta, essa imensa tigela de pus que se entornou sobre Tebas.
Antígona – Não te apoquentes, minha doce Ismene. Eu vou só ser enterrada viva. Podia ser pior, podia ser apunhalada.
Ismene – Mas ser enterrada viva é um sofrimento excruciante e horrendo…ser apunhalada é…Não. Guardas! Chamai Creonte, que quero ser enterrada viva em vez de minha irmã! Dizei a Creonte que me sacrifico em vez dela!
Guarda – Queres ser ‘enterrada’ em vez da tua irmã?...Ok. Menelau, Esdras, Policasto!... Venham aqui enterrar nesta gaja! Tragam os cavalos! Os burros, os pedintes, os cães e os monhés!...
Ismene – ‘o…os monhés? Isso já me parece um bocado de abuso.
Ântígona – Ah não, minha casta irmã! Não posso permitir que sacrifiques a tua virgindade aos monhés, Ismene. Tomo a minha própria vida! Morro! (toma um alfinete que segurava as vestes e espeta-a na jugular de onde esguicha sangue ás golfadas sujando de alto abaixo os presentes) …Arrrrrgghhhhhhh…blroffff…gmbrllll….iiiiichhh…gargl…
Ismene – (desabocanhando momentaneamente de Menelau e sacando o traseiro do barrote de Policasto, um guarda, com um sonoro som de rolha de champanhe) – Nããooooo! Sus!...Irmã, tomaste tua própria vida! Ah ignomínia! Infâmia (chup), anátema (chup), hecatombe (chup, chup…glorg), perfídia! Horror (chup) …De dor morro ora eu também (chup, chup), que grande chatice (chup, chup, chup).
Nisto, surge Hémon, o noivo de Ântígona que vendo a sua amada exangue, caída numa poça rubra e viscosa, exclama, lívido:
Hémon – Ah, a minha doce Antímia! Morreu…ooohhh!
Ismene – ‘Antigona’, não é Ántímia’ pá.
Hémon – Ou isso. Sou um bocado fraco para nomes. Também para o que é que era...aquilo era cada pranchada contra as cariátides do templo de Esculápio, foda-se, a gaja até esguichava dos olhinhos, eh, eh. Mas oh! Tomo a minha vida!..Não posso viver sem Antímia!... (tomando a espada, Hémon eviscera-se de um golpe, enchendo os presentes de vísceras e fezes).
Ismene – Ca’ nojo.
Eurídice (mãe de Hémon e esposa de Creonte) – Arrrrghhhh! Foda-se, lá! Morreu, Hémon, meu filho! Como poderei agora viver? Não. Tomarei a minha vida!
Guarda – Vai lá vai…
Eurídice (despindo as vestes, deixando ver umas mamas descaídas e com varizes que lhe chegavam aos refegos de banha da pança e uma pintelheira desde as virilhas ao umbigo). – Possuí-me, guardas. Possuí-me durante dias a fio, todos vós, até que exale o último suspiro de exaustão! Ofereço-me em horrendo holocausto!...
Os guardas, entretanto tinham abandonado a cena deixando os brados de Eurídice ecoar em vão. Em silêncio, Eurídice e Ismene entreolham-se.
Eurídice – Bom. Tenho o refogado ao lume. Acho que vou andando.
Ismene – E eu tenho umas morcelas de arroz para encher.
Os cadáveres de Ântígona e Hemón jazem numa poça de sangue, tripas e fezes, no meio da cena. Em silêncio, Eurídice afasta-se compondo as vestes, enquanto Ismene sopra numa tripa de Hémon como se fosse um balão e vai atafulhando longos novelos de tripa nos bolsos, pateando o sangue.
O Coro entreolha-se e cai o pano.
FIM
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segunda-feira, 22 de novembro de 2010
A TRAGÉDIA DE ASSENTO DA SANITA – ANTÍGONA – II ACTO
Etiquetas:
arquétipos psicanalíticos,
Ditirambo grego
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