O MUNDO PERFEITO

Hildo deu dois piparotes no GPS. Não valia a pena, estava mesmo sem sinal. Parou o carro junto a uma cerca de arame farpado, olhou em volta e apenas viu campos, árvores e umas ovelhas que apascentavam placidamente, lá longe. Ao fundo vislumbrou a figura de uma Famel Zunddap conduzida aos ésses por um agricultor e que trazia um caixote de plástico com nabiças atado com um baraço na parte de trás. – ‘Bom dia. Parece que estou perdido…sabe como apanho a nacional 106?’ – disse. O outro, com o cérebro cozido pela aguardente, retorquiu com dificuldade: - ‘hôn?...adaponha pur li a cortada, carago, foda-se, lá ao fundo e o caralho (…incompreensível)… uma baraça, vamos mas é ali buer umas malgas dele (incompreensível)…cus animais e a cona da mulher (tosse e puxa um escarro de gosma)… lá em Lisboa é gajas e o carago, ó que é que é?...(riso catarroso) – Disse o agricultor exectorando de novo. Nisto, surge a mulher com um lenço pela cabeça e um molho de nabiças debaixo do braço. Vinha completamente embriagada e deixava um sinuoso rasto de urina em zig-zag no macadame. –‘Ó filha da puta, carago...mrrblmmcona da mãe, caralho, foda-se. Cabrão, do prior fodeu-me a xarifa …(incompreensível)…cus cornos, cofodia todo á bordoada (ri-se e baba-se)… já não se pode obortar os moços, só fazer desmanchos (…) foi o cu e tudo,… ficou a sacristia toda borrada cas fezes (tenta fazer um ar solene). Subitamente, vomita um jacto de vinho tinto para os pés, agarrada a um poste da vedação. Hildo estava embaraçado. –‘Ó senhor, cá a gente no campo é assim. Isto é só arrebimbomalho e e zumba, caralhos, foda-se filhadaputa…’ (riso borbulhante de gosma e catarro). A mulher entretanto atirara-se de borco e braços abertos para a beira de um campo recentemente lavrado e lamacento e ria sozinha enquanto se peidava copiosamente. E quanto mais se peidava mais se ria. –‘Ai, cum caralho que me órino toda…ah, ah, ah…pronto, já está. ´Tou toda órinada. Agora é que o prior cá devia vir, caralho. – disse, agarrando as partes baixas com as duas mãos. ‘ E o marido disse- ‘ O prior, esse filhadauta, cofodo todo, caralho…Ah caralho quando o apanhar, fodo-o, cabrão! – Disse isto brandindo uma navalha de enxertar. Com as faces roxas de raiva e largando fétidos perdigotos na cara de Hildo, o agricultor disse-lhe: ‘ vomecê conhece o prior!…hã?’ (pisca o olho) E estacou cambaleante agarrando a naifa com as duas mão. –‘Ai conhece, conhece…cofodo todo (…) a mulher foi á igreja e ele foi-se-lhe á xarifa, caralho. Fodo-o todo, caragos. - ‘Mas…mas…eu não conheço prior nenhum, eu…só estava de passagem. Pedi-lhe uma informação.’- Retorquiu Hildo. O agricultor já se tinha virado para mulher e desapertava as calças seguras com uma baraça que servia de cinto. Levantou-lhe a saia, expôs-lhe as largas nádegas informes e peludas e zurziu-lhe as miudezas enquanto ela afocinhava na lama, com um porco ao lado que defecava indiferente. A mulher peidava-se por cima e por baixo porque lhe tinha entrado muito ar por causa da posição. –Ái, credo Jzazuza… ai minha nossa senhora, caralho. Ai homem…ai meu jzeuze cristinho caralho…ai’- grunhia arquejante. Nisto, vzzzzzt!...borrou-se toda. – O homem, abespinhado, disse: ´Ah puta! A filhadauta borrou-se-me toda em cima das calças de serrubeco que ainda o mês passado as vesti, foda-se…’. E o cheiro do tomilho e da erva-luísa invadiu os campos.

FIM