(como são raras e boas as bostas do Varreta Charreta... desta maneira penso serem republicáveis de quando em vez...)
Eu sou um adulto de merda
Foi na segunda-feira. Tive um jantar de trabalho que se seguiu a uma tarde de trabalho e a 15 minutos de lazer, num café, a ler o volume das Very Short Introduction da Oxford University Press sobre o Kierkegaard, esse enfermiço com a mania que era mais esperto que os outros. O jantar era tipo-bufete (o que eu gosto da palavra bufete... faz-me sempre pensar em adoptar bufette como estrangeirismo oficial para denominar uma bufa menor) e havia vinho chileno e vinho de arroz coreano. Tudo isto como cuidada construção de contexto para o primeiro punch-line deste texto: minutos depois do jantar, esborracei-me todo. Salvo seja. Fi-lo como deve ser, devidamente sentado sobre tampa plástica aposta em vaso cerâmico próprio, com descarregador de água apenso.
A questão é: porque raio há-de isto ser um punch-line? Porque raio há-de isto ser "escatológico", "grosseiro", de mau tom? É a verdade verdadinha. O próprio Kierkegaard esborraçava-se todo enquanto cogitava sobre o milagre da fé. E eu, que corri para um café depois do jantar, cantando salmos à legislação que obriga estes espaços a terem instalações sanitárias, caguei-me copiosamente depois de um serão de polida conversa de salão e ditos de espírito.
Não sei quem a encetou mas há uma campanha velha de séculos tendente a uma gradual desnaturalização do ser humano. E é (praticamente) global. Apesar de poder ser vista como sintomática das grandes falácias do pensamento ocidental (do "eu" controlador, superior e incorpóreo, preso na suja realidade do esburacado corpo), o facto é que também no oriente não se caga em público. Há uma marca de expiação sobre os nossos testemunhos de animalidade, de naturalidade. São "coisas nossas", feitas com carácter reservado - quando são precisamente aquilo que nos unifica. Não propugno por uma liberalização plena das funções excretórias - mas interrogo-me, por exemplo, porque é que, se não temos divisórias entre urinóis, nas casas de banho para senhores e crianças em idade escolar, porque é que as temos entre sanitas? E porque é que persiste a separação de géneros nas casas de banho? Porque é que eu não poderei ir à casa de banho de um café e perguntar à senhora que relaxadamente muda o penso se a sanita ao lado dela está ocupada? Se ninguém se incomoda com mudanças de fralda; se toda a gente acha graça à criancinha que diz "tenho chichi", que raio há no corpo adulto que motive tanto nojo, desconfiança e "moralidade" saloia? Há merda? Há em todos, que diabo! Nos novos como nos velhos, na Cristina Candeias como no Bento XVI.
Irrita-me um poucochinho, esta desnaturalização, porque eu a acato. Não só na hora de defecar mas em outras circunstâncias. No supermercado maior e mai'barato do bairro onde agora resido, só vendem papel higiénico em volumes adequados a famílias numerosas. Eu bem procurei mas debalde: o volume mais pequeno tinha 16 rolos MAS trazia mais 6 de bónus... E eu, confiando numa gestão criteriosa do inventário que ainda tinha em casa, não comprei. Não comprei porque me sentiria incomodado, nos 15 minutos de caminho entre o supermercado e a minha casa, ao passear frondosos 22 rolos de papel higiénico. Admito: nunca me ocorre coisa nenhuma quando vejo alguém passar carregando enormes volumes de papel higiénico. Mas se tal tarefa me é incumbida, logo eu interpreto cada olhar que me é dirigido como um "eh lá!! vai ser carilada potente, hoje, hein?" ou "com um cu que mal enche as calças queres tanto papel para quê?" ou "este deve ser daqueles que deixa as paredes da sanita bem rebocadas!". E sinto-me estúpido. Limitado. Timorato. Ímpio. Sarkozy. A campanha resulta. Eu sou um bocado desnaturalizado, como o leite é desnatado. Escagaço-me quando a natureza o clama - mas escondo-o, não só o acto como os acessórios, qual Pedro negando Cristo três vezes. Não quero ser visto em sociedade na companhia de papel higiénico (aquela coisa volumosa, sempre com mascotes ridículas que tentam tornar mais "suave" a sonora proclamação EU VOU CAGAR!...).
E estende-se a muito mais, a desnaturalização. Porque é que não é "aceitável" que um casal se despeça numa ocisão social com um "bom, nós vamos andando que eu e o meu marido queremos ir foder"? Porque é que a razão há-de-ser sempre os miúdos, a reunião da manhã ou a chaleira eléctrica que se calhar está ligada? Nenhuma das fórmulas "interessa" a quem a ouve; nenhum anfitrião quer saber da reunião ou da chaleira ou da escalfeta - ou da foda. Mas isto, meus amigos, isto é que a pedra de toque! A desnaturalização fez-se pela linguagem! Como é que pode haver um conceito como o de "linguagem ofensiva"? Ou "insulto"? Ou calão? Ou grosseirice? Ou ordinarice? Expliquem-me. COMO? É a auto-censura da linguagem um imperativo categórico kantiano? Se está ligado (por quem a defende) a qualquer espécie de moral universal, o argumento colapsa pelo pressuposto que um elemento universal pode ser universalmente experienciado através de um meio não-universal como o é o caralho da linguagem, pá!! Porque raio é que se cantam loas aos que captam "a beleza plástica da crua realidade da pobreza/droga/guerra/instituições com muitas pessoas com ar triste" e ninguém reconhece o fino recorte poético de uma expressão como cona da tua mãe? Sim; gostava que alguém me dissesse um dia: "Sabes, estava aqui a pensar gratamente na cona da tua mãe e em quão bendito é o fruto dali saído, Vareta." A cona da mãe de alguém de quem gostamos é um santuário original, um ponto de gratidão ao qual não é preciso prestar tributo directo.
Fica assim prometido: da próxima vez que fôr estrumar a porcelana, talvez sorria com bonomia lembrando-me dessa parte integrante disto tudo e do quanto isto tudo é intrinsecamente bom: as conas das vossas mães. E a da minha, também.
A questão é: porque raio há-de isto ser um punch-line? Porque raio há-de isto ser "escatológico", "grosseiro", de mau tom? É a verdade verdadinha. O próprio Kierkegaard esborraçava-se todo enquanto cogitava sobre o milagre da fé. E eu, que corri para um café depois do jantar, cantando salmos à legislação que obriga estes espaços a terem instalações sanitárias, caguei-me copiosamente depois de um serão de polida conversa de salão e ditos de espírito.
Não sei quem a encetou mas há uma campanha velha de séculos tendente a uma gradual desnaturalização do ser humano. E é (praticamente) global. Apesar de poder ser vista como sintomática das grandes falácias do pensamento ocidental (do "eu" controlador, superior e incorpóreo, preso na suja realidade do esburacado corpo), o facto é que também no oriente não se caga em público. Há uma marca de expiação sobre os nossos testemunhos de animalidade, de naturalidade. São "coisas nossas", feitas com carácter reservado - quando são precisamente aquilo que nos unifica. Não propugno por uma liberalização plena das funções excretórias - mas interrogo-me, por exemplo, porque é que, se não temos divisórias entre urinóis, nas casas de banho para senhores e crianças em idade escolar, porque é que as temos entre sanitas? E porque é que persiste a separação de géneros nas casas de banho? Porque é que eu não poderei ir à casa de banho de um café e perguntar à senhora que relaxadamente muda o penso se a sanita ao lado dela está ocupada? Se ninguém se incomoda com mudanças de fralda; se toda a gente acha graça à criancinha que diz "tenho chichi", que raio há no corpo adulto que motive tanto nojo, desconfiança e "moralidade" saloia? Há merda? Há em todos, que diabo! Nos novos como nos velhos, na Cristina Candeias como no Bento XVI.
Irrita-me um poucochinho, esta desnaturalização, porque eu a acato. Não só na hora de defecar mas em outras circunstâncias. No supermercado maior e mai'barato do bairro onde agora resido, só vendem papel higiénico em volumes adequados a famílias numerosas. Eu bem procurei mas debalde: o volume mais pequeno tinha 16 rolos MAS trazia mais 6 de bónus... E eu, confiando numa gestão criteriosa do inventário que ainda tinha em casa, não comprei. Não comprei porque me sentiria incomodado, nos 15 minutos de caminho entre o supermercado e a minha casa, ao passear frondosos 22 rolos de papel higiénico. Admito: nunca me ocorre coisa nenhuma quando vejo alguém passar carregando enormes volumes de papel higiénico. Mas se tal tarefa me é incumbida, logo eu interpreto cada olhar que me é dirigido como um "eh lá!! vai ser carilada potente, hoje, hein?" ou "com um cu que mal enche as calças queres tanto papel para quê?" ou "este deve ser daqueles que deixa as paredes da sanita bem rebocadas!". E sinto-me estúpido. Limitado. Timorato. Ímpio. Sarkozy. A campanha resulta. Eu sou um bocado desnaturalizado, como o leite é desnatado. Escagaço-me quando a natureza o clama - mas escondo-o, não só o acto como os acessórios, qual Pedro negando Cristo três vezes. Não quero ser visto em sociedade na companhia de papel higiénico (aquela coisa volumosa, sempre com mascotes ridículas que tentam tornar mais "suave" a sonora proclamação EU VOU CAGAR!...).
E estende-se a muito mais, a desnaturalização. Porque é que não é "aceitável" que um casal se despeça numa ocisão social com um "bom, nós vamos andando que eu e o meu marido queremos ir foder"? Porque é que a razão há-de-ser sempre os miúdos, a reunião da manhã ou a chaleira eléctrica que se calhar está ligada? Nenhuma das fórmulas "interessa" a quem a ouve; nenhum anfitrião quer saber da reunião ou da chaleira ou da escalfeta - ou da foda. Mas isto, meus amigos, isto é que a pedra de toque! A desnaturalização fez-se pela linguagem! Como é que pode haver um conceito como o de "linguagem ofensiva"? Ou "insulto"? Ou calão? Ou grosseirice? Ou ordinarice? Expliquem-me. COMO? É a auto-censura da linguagem um imperativo categórico kantiano? Se está ligado (por quem a defende) a qualquer espécie de moral universal, o argumento colapsa pelo pressuposto que um elemento universal pode ser universalmente experienciado através de um meio não-universal como o é o caralho da linguagem, pá!! Porque raio é que se cantam loas aos que captam "a beleza plástica da crua realidade da pobreza/droga/guerra/instituições com muitas pessoas com ar triste" e ninguém reconhece o fino recorte poético de uma expressão como cona da tua mãe? Sim; gostava que alguém me dissesse um dia: "Sabes, estava aqui a pensar gratamente na cona da tua mãe e em quão bendito é o fruto dali saído, Vareta." A cona da mãe de alguém de quem gostamos é um santuário original, um ponto de gratidão ao qual não é preciso prestar tributo directo.
Fica assim prometido: da próxima vez que fôr estrumar a porcelana, talvez sorria com bonomia lembrando-me dessa parte integrante disto tudo e do quanto isto tudo é intrinsecamente bom: as conas das vossas mães. E a da minha, também.
By Vareta
22 comentários:
Primeiríssimo. A seguir vêm os gays.
E os homossexuais. E os invertidos, os pederastas, os misógenos...
primeiros.
(Primeiríssimo é antes de primeiro)
segundíssimo.
quer dizer, o Sento está numa lista paralela... que é a dos "íssimos", conhecidos como os vulgares homossexuais.
as gaijas sempre depois... como sempre ha sido desde el principio que o mundo é
logo a seguir ao Primeiríssimo, mas antes do segundíssimo.
Gayíssimo 1 = Assento da Sanita
Ostia...
decorador de interiores
designer de casas de banho
desenhador de loiças para latrinas
o Sento desenha-as e eu pinto-as.
sou um pintor de retretes.
Designer de roupa interior para homens.
Hã?
Não percebi nada, mas acho qe sim, que a posta do vareta deve ser reeditada, mas sem truncagens nem alterações.
E concordo com a observaç~ºao da raridade e por aí.
O que é que faz ali o símbolo do Google(tm), que aqui a minhe nete é da Idade da Pedra?
Bons dias.
Ideabafarlongascobraszarolhas.
chOURIÇO
olha lá oh camelo: tá publicado sem truncagens nem alterações! tá tal e qual... foi copiar e colar.
... é o Astérix a dar um tabefe num romano com o Obelix a ver.
(choras, faz-me um bico)
Um gajo a pedir q outro que lhe faça um bico, é o quê?
Expliquem-me...
é um pedinchas.
g2, mamaqui...
O que eu queria era fazer um bico ao chouras...
chouras, alinhas?
Então não! podes começar a mamar...
depois posso mamar no teu?
Este paneleiro quer sangue!
Ò Tábua da Retrete, se venho a saber que és tu, fodo-te a tromba toda... os dentes todos!
(estou todo contente, pelas 17.30 tenho consulta na dentista... ai cona, vai ser tão bom!)
Vou gemer de prazer...
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