sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

NO NATAL, LEMBREMOS OS POBRES



Esta história passa-se no meio do imenso pinhal siberiano. Era Natal e nevava sobre o telhado de colmo da modesta cabana. Lá dentro, Emílio tentava introduzir uma árvore de natal no recto, enquanto os seus filhos, com a fome, tentavam comer um resto de bolo-rei guardado ciosamente desde o ano passado. As crianças ranhosas e andrajosas tinham recebido as seguintes prendas do pai:
-Uma pá do lixo de plástico com piassaba.
-Uma vela com cheiro a pinho, que era um aroma exótico para eles.
-Uma ratazana fossilizada que Emílio tinha encontrado atrás do samovar.
-Meio biberon de vodka falsificado
- Um retrato de José Estaline pintado com café e uma mosca esborrachada, pintado com a boca pelos órfãos paraplégicos do orfanato ‘O Gulag’, ali perto.
- Uma miniatura transparente do submarino Kursk, que brilhava no escuro devido ao plutónio que a água lá dentro tinha diluída e onde uns bonequinhos de plástico imitando os marinheiros se afogavam de olhos arregalados.
- Um kit de detecção do vírus de imunodeficiência adquirida decorado com fotos de crianças carecas, magras como cães e cheias de pústulas que, por graça, dava sempre resultado positivo.
- Um coelho criado a menos de 200 metros da central de Chernobil, que era muito giro porque tinha duas cabecinhas e babava um muco verde dos olhinhos.
Nisto, Dimitri o mais novo, desatou aos berros agarrado à boca.
- Que foi, filho?!!... – perguntou Emílio.
– ‘Parti um dente na fava, pai! Buááááá!!!!...’

FIM

6 comentários:

Anónimo disse...

historia terrible y triste sin duda,

pero lo que mas angustia y arrepia é a palavra FIM con que assinas


ostia

Anónimo disse...

Um final feliz.

chOURIÇO

VD disse...

Também concordo com a Luí. Os "fins" do assento sabem-nos a néant, e por momento, dir-se-ia que vislumbramos o infinito, quais leonores silveiras em Vale Abraão.

*Gostava de saber por que razão é o realismo soviético tão caro ao Assento...

Anónimo disse...

Diria mesmo mais: um felaz fanal!

Dum Dum disse...

Comovente e bolshoika história de Natal, sim senhor!
A pravda a que temos direito!

Anónimo disse...

Prrrróstata!